Eu sou o gato que espia
Por armários e estante
Dou meus pulos de gigante
Pra chegar até a pia
E na hora mais tardia
Supreendentemente
Sou pego de repente
Numa atividade vadia
Eu sou o gato que espia
Por debaixo da escada
E pela madrugada
Um de nós sempre mia
De barriga vazia
Investigo, procuro
Pela janela, eu pulo o muro
Eu sou o gato que espia
Dou um salto no escuro
Hoje é carnaval
E eu vou sair
Fantasiado de amor
Eu vou vestir
A mais bela camisa
Aquela com estampa de flor
Hoje à noite
Eu vou sair
Vestindo solidão
Eu vou sair
Vestido de mar
Despir tua intensão
De olhos pintados
Cabelos suados
Vestidos de luar
Corações partidos
De olhos fechados
Girando sem parar
No céu da boca
A tarde cai e eu já nem sei mais em quem me ponho a pensar em você e mergulho no céu
Quando eu abri aquela porta, dei de cara em teu jardim, e percebi, consegui te ver de novo. Eu vi você tentar aparentar tá mais feliz, e eu sofri, por saber de ler de longe.
Se lembra aquele dia que você me falou de tudo que eu fiz do que eu não quis do amor? E aqui tô eu. Bem aqui, sou eu de novo. Enchi o meu caderno de palavras sujas sobre mim e encontrei o teu nome muitas vezes. Se lembra aquele filme que você me falou, eu acho que você já se esqueceu do horror, e que o fim lembrava a gente?
Chorei, pois doeu demais e eu não fui capaz de me conter. Porém, não posso esquecer, perdoei você quando cheguei na sua rua.
Você é meu pequeno terremoto, e basta te encontra. Tudo treme. Prédio e pontes desabam, viadutos caem, tudo fica fora do lugar. Sísmico sentimento, deslocamentos de terra no meu quarto. Tempestades de areia na minha cabeça durante o sonho, acordo deserto. Você é meu pequeno deserto, e basta cruzar o olhar. As folhas caem desiludidas, ficam os espinhos, os galhos retorcidos.. Como lembranças, ou lamentos. Você é meu pequeno grande muro, minha cidade dividida ao meio, minha cidade proibida. Meu pequeno êxodo, nunca mais fui o mesmo.
Me esqueça porque não consigo te esquecer
Me deixe porque não consigo te deixar
Me negue um beijo porque não consigo te negar
Me amarre no chão
Fotografias que você deixou cair
Me desencontrei assim quando te vi
Teu silêncio grita alto no meu coração
Anoiteço
Não te vejo mais, falta coragem pra falar amor
Não te vejo mais, falta coragem pra falar
Me abandone, me descarte, me resgate já
Num oceano escarlate após naufragar
Maremotos, tempestades, saudades de você
Eu me lembro bem
Não te vejo mais, falta coragem pra falar amor
Não te vejo mais, falta coragem pra falar
“Nunca mais Bonnie and Clyde, a pele cinza o dia doloroso. Não mais o passo-que-pego, estamos sós, a lua pastosa. Imaginar o amor é poético, amar é pôr a poesia em risco.”*
*poema “Separação” de Leonardo Marona - áudio extraído do filme "Doce Amianto", de Guto Parente e Uirá dos Reis.
A lua do sertão
Pra quem já viu
É nua imensidão
Ilumina tudo
Ilumina muito
Ilumina azul
Nos cantos sem luz
Vai recordação
Ilumina o caminho
Jornada e destino
Um mandacaru sozinho
Enluarado em mim
À noite desabrochando
E a lua desvelando
Deixa tudo vermelho
Azulzim
Quero deitar com você
Tocar suas incertezas no escuro
Não aponte mais o que não pode ser
Não aposte mais no que não pode ter
Estamos juntos aqui
Onde o vento não vem
Calor e desordem
Quero deitar com você
Estamos juntos aqui
Onde o vento não vem
Fim
E a história acaba aqui
Sem querer
Sem eu me esquecer de ti
Tanto faz, tanto fez
E a história acaba ali
Como um filme B
Com um ator ruim
Um pedido antes de partir
E a história acaba aqui
Sem saber
Com um close em ti
Perdendo o foco em mim
E a história acaba assim
Sem morrer
Escapando por um triz
Melodrama tipo C
about
Por Raisa Christina:
"Do alto de um prédio no centro da cidade, ouço o novo disco de Vitor Colares, eu entendo a noite como um oceano que banha de sombras o mundo de sol. A sequência me sugere um percurso trôpego. O caminhante tem seu corpo alterado pela inconstante paisagem urbana, cuja dinâmica remove grandes porções de solo para construção de túneis e de repente se inclina num emaranhado de viadutos que confundem o sentido de cabeças e avenidas. Ele é profundamente só, mas caminha na mira de um vulto, uma figura humana tão turva quanto real.
Vitor transpõe Fortaleza. Sua produção é áspera, dolorosa, grave, universal. Cada faixa nos atinge no primeiro gole, cinema em primeiro plano, ficção em primeira pessoa. Todo espaço distante do corpo nos é apenas insinuado, todo verso entoado por ele também nos pertence. A voz narra algumas das desilusões amorosas que ainda ressoam quando a melodia nos faz fechar os olhos e também aquelas que sofreremos num futuro incerto ou até mesmo desilusões que talvez nunca tenhamos de fato, mas que seguem latentes, paralelas às calçadas que pisamos com total descuido.
Num dado momento, o sertão aparece, mas não se trata mais daquele laranja, com tons de ocre ou cinza de terra rachada, como dizem os quadros de cactos que se cristalizaram no imaginário sobre o Nordeste. O sertão, neste disco, são os galhos retorcidos das lembranças cantadas por uma voz que vive os aglomerados da metrópole e não esquece o sentimento cotidiano de estar sozinho no mundo.
Vitor nasceu em 1978 e cresceu em Messejana, bairro com ares de interior na zona sudeste de Fortaleza. Desde pequeno, tem nas veias salientes do pescoço e dos braços um desejo muito urgente de se relacionar com as coisas à sua volta. Escreve, desenha, compõe, atua. Produz linhas que performam palavras escritas, séries de sons, gestos no espaço. Não poderia viver de outro modo, que não fosse tomando instantes de sofrimento e casos de amor mal sucedidos como matéria de criação.
Não nos é permitido seguir imunes, de coluna reta e roteiro definido, após escutarmos sua música"
. . .
Produzido por Vitor Colares, Felipe Lima e Guilherme Mendonça.
Gravado entre abril e novembro de 2016 por Felipe Lima no Quintal, exceto a guitarra base de Créditos Finais, gravada no Tótem Estúdio por Yuri Kalil em agosto de 2015, e as guitarras de Ferrnando Catatau, gravadas por ele mesmo na Casa do Lobis.
Mixado por Felipe Lima, Vitor Colares e Guilherme Mendonça.
Masterizado por Klaus Sena no Klaus Haus Studio.
Capa por Vitor Colares e Diego Maia
Vitor Colares: guitarra, baixo, sintetizador, beat e samples.
Guilherme Mendonça: bateria em Carnaval, Jardim Suspenso, O Silêncio é o Espaço Vazio Entre as Bocas e Portentosa.
Rodrigo Colares: sintetizador em Pistoleto, Vermelho Azulzim e O Silêncio é o Espaço Vazio Entre as Bocas.
Fernando Catatau: guitarra em Carnaval e Jardim Suspenso.
Julio Cesar Santana Pepeu: sample em O Silêncio é o Espaço Vazio Entre as Bocas
*Samples: Sinos tibetanos e saxofone em Carnaval; o poema “Separação” de Leonardo Marona lido numa cena do filme Doce Amianto, de Uirá dos Reis e Guto Parente em O Silêncio é o Espaço Vazio Entre as Bocas; trechos do filme “Songs of Avignon” de Jonas Mekas em Solidão.
Todas as músicas e letras por Vitor Colares; exceto Jardim Suspenso, por Vitor Colares e Daniel Groove; Vermelho Azulzim, por Vitor Colares e Juliane Peixoto e Portentosa, por Vitor Colares e Uirá dos Reis.
Obrigado: Maria e Olavo, Fernando Hugo, Rodrigo Colares, Clara Capelo, Felipe Lima, Guilherme Mendoça, Klaus e Aninha, Fernando Catatau, Dora Moreira, Lenildo Gomes, Nanda Loureiro, Nádia Camuça, Raísa Christina, Uirá dos Reis, Diego Maia, Juliane Peixoto, Darwin Marinho, Ícaro Tavares Capelo, Ivo Lopes Araújo, Jonas Mekas, Luiz Pretti, Eric Barbosa, Maria Soledad, Xandinha, Daniel Groove, Yuri Kalil, Pepeu, Bruno Rafael, Miltinho, Pedro Gabriel e Zé Ramalho.
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