1. |
Inacabada
01:42
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Eu detesto a vida inacabada
A poesia inacabada
A música inacabada
Eu odeio
E então os amores inacabados
O que dizer?
Inacabados
Os seres inacabados
De ossos expostos
O que lhes há de mais profundo:
Os ossos
Os dentes
Pintura e moldura do riso histérico
Em noites estéreis inacabadas
Das luzes dos postes alternadas
De feixes
De me deixes
De me beijes
E caminho
Pelas ruas inacabadas
Da cidade inacabada
Que não para de copiar
Óperas inacabadas
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2. |
O Inevitável
03:25
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Ficas com o silêncio dos teus pensamentos,
pois a minha cabeça
tem um turbilhão de cores e imagens.
E nem mesmo tuas doces frases calculadas
irão tirar-me do estupor de dor
e angústia ao qual me remetestes.
Seus gestos duros, frios, um bloco intransponível
impossível até para o abstrato desejo.
Quando falas, não diz. Quando olhas, não vês.
É só (tudo) imagem.
Sem distinção. Sem prazer.
Cem motivos para ignorar o óbvio:
a obviedade do fim.
O inevitável fim das coisas.
As coisas que não impedimos de ruir.
Os punhos cerrados, a falta de tempo e o desconexo.
Desconheço as acusações.
Já vivi bem melhores dias de aflição:
chá quente, cama idem.
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3. |
Palavras Repetidas
00:42
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Sinto-as circular na minha língua, as palavras repetidas, até dar-lhe um nó.
Ponho-a para fora e com uma faca de mesa a separo do resto do corpo. Amarrada pelas palavras repetidas, a língua se debate. O faz na tentativa de soltar-se ou soltar as palavras repetidas. Na ponta, pelas expressões de certeza, no meio pelas de negação e alinhavada por um gigantesco eu. Eu ao contrário, impassível e feliz, sutil e violenta, observava. E mesmo sem língua realizava que as palavras repetidas não retornariam à minha boca.
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4. |
Mosaico
00:28
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É feito mosaico.
Efeito mosaico.
Os homens são todos
Prosaicos,
Arquétipos,
Protótipos,
Tipos.
Cheiro de cio que atrai
e estimula,
produção de hormônio,
cheiro de cio:
vacilante,
odor,
carnal.
É disso que é feito o amor.
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5. |
I Hate U
00:35
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I hate u with no reason at all
all the non senses u told while u were kissing me
This is nothing
I belong a place where no one cares and no one loves
So stop confunsing me
Stop confusing me...
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6. |
Intermezzo
01:47
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7. |
Luis
01:11
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Tremor no meu corpo, tremor no meu corpo
Com as minhas próprias mãos
Dando a mim mesma encanto
Ouvindo a minha voz, forte.
Respirando, respirando...
Minhas mãos...
Minhas mãos estão no meu corpo
Tocando-o,
Sentindo-o por dentro
Profundamente, úmido.
Sou eu em minha carne e não o corpo de um estranho
Ninguém mais respirando,
Respirando comigo na solidão do escuro
Mas eu estou comigo mesma
Em mim mesma.
............................................
Shake my body, shaking it with my very own hands, giving myself pleasure,
hearing my voice out loud. Breathing, breathing
My hands… my hands are in my body,
Touching it, feeling it inside, deeply, wet…
It’s me in my flesh and no stranger’s body.
Nobody else breathing, breathing with me in the darkness’ solitude.
But I’m with myself in my own self.
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8. |
Stoned
01:18
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Acorrentada, sedenta
Stoned like a rock
Like a rock star
Acorrentada que me trava a boca
Que me paralisa a língua
E tu
E tudo de novo
Acorrentada
Um nó da boca até as vísceras
Que me impede de dizer que eu estou acorrentada
A ti
A tirania do teu
Egocentrodomundo
Pequeno, sórdido, medíocre.
Quero outros universos que não o seu.
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9. |
Humilhação
01:09
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Acabou a humilhação
por meia dúzia de beijos, não dou mais nem um abraço.
beijos que eram fartos, como eram fartos os meus seios.
farta a nossa luxúria, irrompia noite à dentro e cismava....
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10. |
Parque das Crianças
02:58
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É exatamente assim que eu me sinto
com os olhos vendados, a espera de mãos que me guiem
senão, ajoelho, rastejo e tateio, vendo com as mãos o que os olhos não sentem
sinto-me como os gansos que enterram a cabeça na água e lá ficam e lá ficam
a diferença é que quero me afogar...
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11. |
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12. |
Segunda-feira
02:05
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Domingo era mesmo seu dia preferido. E sozinho bebia leite para que se pintasse a boca com o bigode branco. Ensaiando um clima happy familly de comerciais televisivos. Era suficiente. E era de onde vinha a inspiração excitante de uma lesma para escrever frases rápidas como se fosse um poeta descompromissado.
Na frente do espelho ensaiava todas as falas do dia.
A da padaria:
- 10 pães, por favor.
Ninguém devia saber que morava só. O tal clima do happy family, por isso:
- 10 pães, por favor.
A da banca:
- o jornal e...esse livrinho de desenhos para colorir.
Repetia. Repetia. É preciso ser convincente com essa coisa de happy family. É preciso deixar descendentes, continuar o nome da família. A qual o abandonara há 37 anos. Há exatos 37 anos que lhe pertencem.
- É preciso deixar descendentes. Falava a si mesmo no espelho do banheiro insipidamente branco. E sorria e piscava e gesticulava positivamente.
Era domingo.
Naquela segunda-feira fez o percurso normal padaria–banca como um
dobermann cego. As frases repetidas, não lhe saiam a boca. Encontrava-se nos pijamas. Errante. O dobermann cego cheirava o odor de si mesmo para o caminho de casa. Derramou o leite, manifestou um grito. Decepou o próprio membro. Não é preciso deixar descendentes. Hoje é segunda-feira.
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13. |
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Eu já apaguei a luz
Eu já bati a porta
Declarei também os impostos
Já fiz as malas
Pintei um quadro
Fiz sexo na pia
Surrei meu vizinho, eu já
Eu já fui mulher suficiente para ser seu homem.
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